O que é o Terceiro Estado?

O Terceiro Estado forma em todos os setores os dezenove/vinte avos, com a diferença de que ele é encarregado de tudo o que existe de verdadeiramente penoso, de todos os trabalhos que a ordem privilegiada se recusa a cumprir. Os lugares lucrativos e honoríficos são ocupados pelos membros da ordem privilegiada… Quem, portanto, ousaria dizer que o Terceiro Estado não tem em si tudo o que é necessário para formar uma nação completa? Ele é o homem forte e robusto que tem um dos braços ainda acorrentado. Se suprimíssemos a ordem privilegiada, a nação não seria algo de menos e sim alguma coisa mais. Assim, que é o Terceiro Estado? Tudo, mas um tudo livre e florescente. Nada pode caminhar sem ele, tudo iria infinitamente melhor sem os outros… Uma espécie de confraternidade faz com que os nobres dêem preferência a si mesmos para tudo, em relação ao resto da nação. A usurpação é completa, eles verdadeiramente reinam… É a Corte que tem reinado e não o monarca. É a Corte que faz e desfaz, convoca e demite os ministros, cria e distribui lugares, etc. Também o povo acostumou-se a separar nos seus murmúrios o monarca dos impulsionadores do poder. Ele sempre encarou o rei como um homem tão enganado e de tal maneira indefeso em meio a uma Corte ativa e todo-poderosa, que jamais pensou em culpá-lo de todo o mal que se faz em seu nome.”

O Terceiro Estado

O Terceiro Estado era bastante heterogêneo. Compreendia cerca de 98% da população francesa, que contava na época com pouco mais de 25 milhões de pessoas. Dele faziam parte:
alta burguesia: banqueiros e grandes empresários;
média burguesia: profissionais liberais;
pequena burguesia: artesãos e lojistas;
sans-culottes: trabalhadores, aprendizes e marginalizados urbanos, 20 milhões de camponeses, dos quais, cerca de 4 milhões deles ainda viviam em estado de servidão feudal.

Era sobre o Terceiro Estado que pesava o ônus dos impostos e das contribuições para a manutenção do Estado e da Corte. Mesmo sem ter uma unidade, os membros do Terceiro Estado, de uma maneira geral, concordavam em reivindicações como o fim dos privilégios de nascimento e que se instaurasse a igualdade civil.

Se, desde o século XVI, o governo francês havia adotado uma política de incentivo ao comércio exterior e ao favorecimento do incremento das manufaturas, o que colocava a burguesia e o governo, de certa forma, alinhados de um mesmo lado, essa identificação deixou de existir. Esse rei absoluto que distribuía privilégios em troca de apoio político começava a custar muito caro aos burgueses. Os interesses dos diversos grupos que compunham o Terceiro Estado começavam a confluir, o que iria consolidar a revolução.
                                                                                 
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Luis XVI tomou posse em 1774, enfrentando desde o início, o problema de insuficiência na arrecadação de impostos. Turgot, primeiro de seus ministros de finanças, no período de 1774 a 1776, tenta cobrar impostos de padres e nobres. Foi obrigado a renunciar. Calonne, seu sucessor, teve o mesmo destino. Necker, terceiro a ocupar o cargo, publicou uma lista de pensões pagas aos nobres e da receita do país, por isso foi afastado.

Em 1787, o rei convoca a Assembléia dos Notáveis, expõe a situação e propõe aos nobres uma reforma fiscal. A proposta é rejeitada pela Assembléia, que afirma que apenas os Estados Gerais poderia deliberar sobre a criação de um novo imposto.

Em 1788, a receita da França era de 503 milhões de libras, mas as despesas chagavam a quase 630 milhões, num déficit de 20% do orçamento. O Ministro das Finanças, Brienne, tentou novamente fazer uma reforma fiscal, mas a nobreza, ainda lutava pela manutenção dos privilégios feudais, rejeitou qualquer idéia de reforma fiscal.